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DIÁRIO CINEMUSICORIANO: SUPER POLEDOURIS RETURNS
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Este congresso teve início no dia 20 de julho de 2006, tendo terminado a 23 do mesmo mês. O evento foi composto por várias palestras, sessões abertas e um grandioso concerto com a apresentação de obras dos compositores John Ottman, John Frizzel, John Debney e Basil Poledouris, com destaque para a audição de temas da banda sonora de Conan, o Bárbaro, com visionamento simultâneo de imagens do filme. Estiveram presentes cerca de 300 congressistas inscritos, sendo que no concerto, realizado sábado à noite, estiveram presentes 700 pessoas.
Chegamos na sexta-feira dia 21 de julho, a tempo de assistirmos a um ensaio com orquestra, coro e o compositor John Frizzel! Os compositores, que iriam coordenar a Orquestra Sinfónica e Coro de Andalucia, já se encontravam na cidade desde terça-feira, dia 18 de Julho.
Palestra com John Ottman
Logo a abrir, tivemos oportunidade de assistir a uma palestra com a presença do simpático compositor / editor John Ottman. O seu sonho de criança foi ser actor de cinema, freqüentando uma escola de cinema, até que comprou um sintetizador em 2ª mão e começou a fazer pequenas bandas sonoras para as curtas-metragens dos seus colegas aspirantes a diretores. O seu principal parceiro cinematográfico era Brian Singer, sendo que no início Singer achava que Ottman compunha temas demasiado leves. Ottman e Singer acabaram por conquistar o principal prémio, tendo o júri do festival enaltecido principalmente a ligação entre som e imagem.
A faceta de editor / compositor de Ottman é reconhecida (ele prefere a função de editor) e segue-se o filme Usual Suspects que o consagrou como compositor e lhe valeu o prémio BAFTA, que curiosamente, por não conhecer esta academia, valeu a opção de Ottman em pedir aos seus produtores para irem a Inglaterra receber o prémio por ele. Confessou que mais tarde se arrependeu! Os seus trabalhos que mais lhe agradam são a curta-metragem Incognito, para além das longas Kiss Kiss, Bang Bang e Usual Suspects.
Relativamente ao seu modus operandi para compor a banda sonora, Ottman opta por compor ao mesmo tempo que edita as seqüências dos filmes, começando por compor os themes. Reconhece que acaba por dedicar muito mais tempo à edição de imagem do que à composição da banda sonora, que faz normalmente num prazo de 5 semanas. John não tem conhecimentos profundos sobre música orquestral (tem um orquestrador que “traduz” tudo o que ele cria para orquestra, que ele considera elogiosamente ser o seu “melhor amigo profissional”). John Ottman afirma que o que lhe dá mesmo prazer é ver a conjugação entre imagens e sons. Como compositores preferidos aponta Williams, Morricone e Goldsmith.
Relativamente à banda sonora de Superman Returns, Ottman previa desde início que ia ser “queimado”, pois ele reconhece não chegar aos calcanhares de Williams! E o score de John Williams para o original Superman é o seu preferido, e Ottman resolveu inicialmente tentar criar a banda sonora em tom de homenagem, mas depressa viu que estava mais a limitar-se do que a criar e resolveu seguir o seu próprio estilo. Um ponto curioso surgiu quando Ottman, questionado sobre o facto de nos créditos iniciais de Superman Returns surgir apenas o nome de Ottman (não acompanhado por Williams), respondeu lançando uma questão “Por que é que nos créditos de Missão Impossível III não surge “music by Lalo Schifrin”?”.
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Concerto com compositores convidados
À noite o concerto foi realizado ao ar livre no pátio do antigo Hospital Santiado em Úbeda. O programa da noite incluiu a temas da nova banda sonora de Superman Returns e também de Usual Suspects compostos por John Ottman, mas conduzidos em concerto pelo seu orquestrador Damon Intrabartolo. A assistência apreciou principalmente o retomar do tema principal de Superman, composto por John Williams. Seguiu-se John Frizzel, que comandou a orquestra e coro numa revisitação de alguns temas principais das suas bandas sonoras como Alien: Ressurection e Ghost Ship. Importa referir que o muito acessível, informal e ainda muito jovem compositor norte-americano revela-se uma esperança para o futuro. A seguir com atenção nos próximos anos.
John Debney apresentou-se em palco primeiro com uma revisitação, em jeito de homenagem, a alguns temas da carreira de Jerry Goldsmith, onde se destacou o arrepiante e emocionante main title de Star Trek - The Motion Picture. No final Carol Goldsmith, filha do grande Jerry, foi homenageada com uma salva de palmas. Reconheço que John Debney era o compositor de quem esperava menos e até nem tinha uma impressão muito positiva do seu trabalho para A Paixão de Cristo, mas a minha opinião definitivamente mudou. A forma como foram interpretados alguns temas deste trabalho (movements 2, 7 and epilogue) foi magnífica, com uma orquestra e coro em grande, arrebatando imediatamente aplausos de pé da assistência, que também me pareceu muito surpreendida!
E, enfim, eis que entra em palco, usando um lenço preto na cabeça e um longo manto negro que dava um ar misto ferreiro e pirata, o grande Basil Poledouris! Elevado ao ponto de herói por Frizzel e apresentado como mito por Debney, Poledouris foi simplesmente adorado neste evento! O concerto, no qual percorreu apenas a banda sonora de Conan, o Bárbaro numa estréia mundial, foi acompanhado por imagens do filme e a voz do narrador. Foi incrível observar o ambiente que se criou, sendo que nos temas mais intensos alguns membros da assistência vibravam agitando os braços, como se também eles fossem maestros conduzindo a poderosa locomotiva sonora em que se transformou o coro e a orquestra! Para além do tema principal, foram interpretados “Raiders of Doom”, o love theme, o tema final no qual como Poledouris disse “now we are gonna burn the temple down!”, encerrando com um inevitável encore mais uma vez como tem principal da banda sonora.
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Entrevista mútua entre compositores Frizzel / Debney / Poledouris
No dia seguinte, ocorreu uma palestra muito interessante. Na mesa estavam os compositores norte-americanos (apoiados pelo seu manager Ray Costa) John Debney, John Frizzel (presidente do congresso, que para o ano passará a pasta para John Debney) e Basil Poledouris. O programa constava numa série de questões que cada compositor tinha que colocar aos restantes. Apresentamos aqui algumas, juntamente com as suas respostas:
Questão colocada por John Frizzel: “Qual o lado bom e lado mau da realização de demos (pequenas amostras rudimentares dos temas da banda sonora) por parte de compositores, agora tanto exigidas por directores?”
Resposta de John Debney: “Nem sempre são pedidas e feitas, mas podem ser úteis. Não me agrada, mas é tipo um mal necessário. Actualmente muitos directores aprovam as minhas demos. Uma coisa curiosa é que acabam por ser outros temas, que os directores ouvem depois com orquestra, o alvo da sua preferência. Acho que o compositor com tempo e espaço consegue “educar musicalmente” o director! (risos)”
Resposta de Basil Poledouris: “Numa perspectiva histórica, antigamente só passadas 4 semanas é que um director tinha demos, agora querem-nas para amanhã! As minhas demos são feitas ao piano, não me “refugio” no sintetizador como fazem outros colegas meus... Directores querem de um dia para o outro a base musical para 3 ou 4 seqüências do filme! Eu não aceito isso e também por isso decidi afastar-me desse meio.”
Resposta de John Frizzel: “Para mim tem como ponto forte: se o director gosta, levar isso a orquestra é rápido! Ponto fraco será o facto de, dada a urgência com que são pedidas as demos, pressionar o uso recorrente do sintetizador, o que limita as possibilidades das músicas”.
Questão colocada por John Debney: “Onde existe mais liberdade criativa: antes ou depois da explosão da electrónica?”
Resposta de Basil Poledouris: “Consigo ver o passado e agora. Antigamente o tema principal era tocado ao piano. Havia mais liberdade dado o espaço e tempo que tinham para apresentar trabalho. O problema foi quando os grupos de rock e pop começaram a competir com os compositores para a realização dos scores... O compositor acabava por aparecer só quando era altura de gravar com a orquestra, sem poder de opinião... Com a electrónica já não há volta a dar, temos de viver com isso e adaptar.”
Questão colocada por Basil Poledouris: “Que filme gostariam de ter musicado?”
Resposta de John Frizzel: “É difícil responder, porque há grandes trabalhos que eu julgo que não conseguiria fazer melhor...”
Resposta de John Debney: “Talvez Star Wars, mas não conseguiria fazer melhor que Williams... Também Somewhere in Time de John Barry, mas ele é o maior! Sim já sei! Esse sim faria melhor: Pirates of the Caribbean”! (risos e aplausos)
Questão colocada por John Frizzel: “Antigamente a música de orquestra influenciava muitos os scores, agora... E no futuro?”
Resposta de Basil Poledouris: “Há que ter em atenção que o orçamento que se despende com a banda sonora tem baixado. As orquestras são caras, os sintetizadores fáceis de comprar e manipular (não musicar). Por outro lado, acho que pode ser um processo semelhante a quando Beethoven montou o seu próprio piano. Há bons compositores jovens! Mas o que tem vindo a acontecer progressivamente é o abandono da melodia, dos temas principais para cada personagem ou local. Temos vindo a ver nos scores mais recentes que o som provoca emoção e muitas vezes saímos da sala de cinema se melodia nos ouvidos.”
Resposta de John Debney: “O aproveitamento da World Music pode ser um bom caminho, novos instrumentos acústicos, Há alguns compositores que o fazem e muito bem. Exemplo aqui do John Frizzel. Também John Powell!
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Palestra com Basil Poledouris
O programa do congresso foi finalizado com a palestra com Basil Poledouris. O compositor, sempre com aparência simpática, descontraída, mas também um pouco cansada (é sujeito a sessões diárias de massagens terapêuticas...) fez uma ligeira apresentação da sua carreira e evolução. Depois abordou a sua experiência na composição da banda sonora de Conan, o Bárbaro, com algumas revelações interessantes:
- Poledouris levou 12 meses para finalizar todo o score;
- O filme Conan, o Bárbaro foi para a tela numa gravação em som Mono, sendo que apenas na edição em DVD do filme o som é Stereo;
- Basil Poledouris revelou em primeira mão que está a pensar, juntamente com John Milius, passar a história de Conan, o Bárbaro para um bailado, que terá uma tour com a sua presença;
- O compositor reconheceu que o seu trabalho na sequela Conan, o Destruidor foi um erro, pelas suas palavras “nunca o deveria ter aceito, pois o director tinha mudado, a história era má e o filme também”. Sendo que o irritou profundamente, tendo afectado o seu trabalho, o facto de lhe terem prometido uma orquestra de 90 elementos e lhe terem apresentado apenas 40! Um ponto interessante na opinião pessoal de Poledouris sobre as bandas sonoras é o facto de este achar que a forma de criação musical tem muito a ver com o ritmo com que falam os povos. Diz ele que basta comparar como falam e, conseqüentemente, a sua música de chineses e espanhóis.
Basil Poledouris revelou também que está cansado do mundo das bandas sonoras de cinema! Mudou de casa para longe de Hollywood (vive agora numa ilha perto de Seattle) e não gosta das exigências de rapidez e imposição nas suas criações a que os compositores estão sujeitos. Basil Poledouris acabou por revelar até a fórmula que utiliza para criar as melodias dos temas principais das suas bandas sonoras: ele simplesmente canta frases que lhe vão surgindo sobre a história do filme!
A título pessoal devo acrescentar que consegui realizar uma curta entrevista com Basil Poledouris para o “Cinemusicorium” (Rádio Universidade de Coimbra), em que este revelou que Dimitri Tiomkin, Eric Korngold e Miklos Rozsa são os seus compositores “antigos” de referência.